terça-feira, 1 de março de 2016

Qual a origem dos problemas ambientais?

Você já se deu conta que existem diversas concepções para identificar as causas dos problemas ambientais? Poderíamos questionar: Para que buscar estas causas? Os problemas com o meio ambiente estão a nossa vista e devemos atuar no sentido de solucionarmos ou minimizá-los.Algumas pessoas acreditam que buscar as causas que geram estes problemas seria demandar tempo, tempo este que poderia ser utilizado de forma objetiva.

Esta pode ser a opinião de muitos, principalmente quando nos detemos superficialmente sobre um assunto, entretanto devemos atentar para o fato de que apenas conhecendo as causas é que podemos buscar meios eficientes para resolvê-los. Diagnosticar o problema é uma etapa, mas para se usar o medicamento ou antídoto correto tem-se que saber a causa.

Vamos simular que estamos de posse de uma lente de aumento e de posse deste instrumento vamos identificar três diferentes concepções sobre as causas da crise ambiental. A primeira delas considera que os problemas ambientais se intensificaram a partir do modelo industrialista de desenvolvimento, caracterizado por alto consumo de matérias primas, energia e água. Claro que este modelo se assenta nas conquistas científicas tradicionalmente pautadas numa lógica cartesiana em que valoriza-se o conhecimento especializado e a visão linear dos processos: retira-se matéria prima do meio ambiente, transforma-a, repassa-se ao consumidor a utiliza e os resíduos da produção e do consumo são descartados diretamente no ambiente.

Nesta concepção, a solução ou mitigação dos problemas ambientais se encontram no emprego de tecnologias limpas ou ecotecnologias; deve-se incentivar o reaproveitamento dos produtos, ou, reciclá-los, de modo que o resultado do processo industrial seja a mínima geração de resíduos. A partir do advento do desenvolvimento sustentável se insere a concepção de ciclo de vida de um produto, e a visão cíclica dos processos é inserida na cadeia produtiva. Educação ambiental nesta concepção é educação para saber reciclar, reutilizar, economizar no uso da água e da energia, por exemplo, e propõe-se repensar o consumo, mas é admissível que o repensar seja superficial, precisa-se manter as indústrias aquecidas produzindo sempre mais, agora com mais cuidado quanto à exploração dos recursos naturais e com o destino dado os rejeitos.

Fechando um pouco mais o foco da lente veremos uma segunda concepção que alia problema ambiental com sistema político adotado. As causas seriam o capitalismo que na lógica do lucro deseja transformar tudo em riquezas a serem usufruídas por poucos, segundo Foladori (2001) O capital “inaugura, pela primeira vez na história da humanidade, um sistema de produção, cujo objetivo não é a satisfação direta das necessidades, mas a obtenção do lucro”. Este sistema responde pela desigualdade acentuada na distribuição da riqueza, 80% da população mundial, detém 20% do capital que circula no mundo, enquanto 80% da riqueza encontra-se nas mãos de 20% da população. Nesta concepção unicamente promovendo melhor distribuição de renda, permitindo acesso da população à saúde, educação, moradia, lazer, incluindo consciência política, o indivíduo agiria em seu meio com mais responsabilidade. Entretanto os dois sistemas têm base na produção industrial intensiva no uso de recursos e de energia, ambientalmente seriam degradadores.

Fechando mais o foco vamos encontrar a terceira vertente que situa as causas dos problemas ambientais, no campo dos valores humanos. A preponderância das atitudes autoafirmativas, tendo seu maior representante o sistema patriarcal, responderiam pelas nossas ações em relação ao meio que nos cerca, incluindo nossos semelhantes. No entendimento de Fritjof Capra (1982, p. 27), as atitudes decorrentes do sistema patriarcal são os gestores da degradação ambiental como um todo. Este sistema (que está instalado há, pelo menos, três mil anos) caracteriza-se pelo domínio, pela força, pressão direta, ou pressões mais sutis, como o ritual, a tradição, lei e linguagem, costumes, etiqueta, educação que são impostos ao ser mais fraco.

Os contrapontos a este sistema, tão arraigado em nossa sociedade, são os movimentos feministas, os de valorização da diversidade, de acolhimento ao diferente. Nesta concepção educação ambiental seria educação em valores humanos, mudança profunda nas nossas crenças, resultando em quebra de preconceitos, atitudes responsáveis em relação ao mais fraco, entendendo mais fraco como nossos semelhantes e o ambiente natural. Nesta visão se insere as concepções sistêmica, holística e a teoria da Complexidade de Edgar Morin.
Talvez esta breve discussão nos faça entender porque às vezes os educadores trabalham com focos diferenciados. No mais cabe-nos ressaltar que devemos tratar de EDUCAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL, meio ambiente e ser humano estão profundamente interligados e estes assuntos não podem ser tratados separadamente. O leitor concorda?
Joedla Rodrigues de Lima, Dra.
Professora do curso de Engenharia Florestal (UFCG)
Colaboradora do Projeto Florestal Recicla III.

Fonte: www.florestalrecicla.com/2011/05/qual-origem-dos-problemas-ambientais.html

Sugestões para Leitura:
ALTVATER, Elmar. O Preço da Riqueza. Tradução de Wofgang Leo Maar. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995. 333 p.
BOFF, Leonardo. Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. 319 p.
FOLADORI, Guilhermo. Traduzido por Marise Manoel. Limites do Desenvolvimento Sustentável. Campinas (SP): Editora da Unicamp e São Paulo: Imprensa Oficial, 2001.
LEFF, Henrique. Epistemologia Ambiental. Tradução de Sandra Valenzuela. São Paulo: Cortez, 2001.
MATURANA, H. R. & ZOLLER, G. V. Amar e Brincar: Fundamentos Esquecidos do Humano. Tradução de Humberto Marioti e Lia Diskin. São Paulo: Palas Athena, 2004. 266 p.
MORIN, Edgar & KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria. Tradução de Paulo Azevedo Neves da Silva Porto Alegre: Sulina, 2002.

TEXTO PARA LEITURA: Muito Além da Economia Verde: resenha de José Eli da Veiga

 A ruptura necessária para outra economia Pela definição original, economia verde é a que pode gerar um simultâneo triplo dividendo: melhoria do bem-estar e redução das desigualdades sem aumento da pegada ecológica. Foi com essa enxuta fórmula que, há mais de dois anos, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) propôs o tema que acabou se transformando na principal controvérsia da Rio+20.

 O processo preparatório, em que se engalfinham há sete meses os heterogêneos blocos geopolíticos das 193 nações, resultou em completo desmanche da noção inicial. O documento “O Futuro que queremos”, na versão de 80 páginas que foi submetida à terceira rodada, consolidou censura à ideia de igualdade social, substituída pelo mantra da mais irrestrita fé no crescimento econômico. Foi assim que dobrou a lista de virtudes da economia verde, apesar do desaparecimento da redução das desigualdades. Agora ela tem meia dúzia de benefícios, na seguinte ordem: erradicação da pobreza, crescimento econômico, inclusão social, bem-estar, emprego, trabalho decente e – antes tarde do que nunca – funcionamento saudável dos ecossistemas.

 O mais irônico é que esse tiro acabou por sair pela culatra justamente dos que mais trabalharam pelo desmanche. A oposição política ao slogan proposto em 2010 pelo Pnuma se concentrou em apresentar a economia verde como a mais sofisticada das maldades conspirativas do Norte contra a prosperidade do Sul. Num quixotismo que enxerga no qualificativo “verde” quatro moinhos de vento. Ele marginalizaria objetivos sociais, diminuindo a importância e a urgência do direito ao desenvolvimento; induziria discriminação a importações provenientes do Sul; favoreceria indesejáveis condicionalidades nos arranjos de assistência ao desenvolvimento; e, como qualquer outra abordagem unívoca, faria com que os dois mundos fossem avaliados com uma mesma régua, contrariando o princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas.

 Marcados por essa retórica de vira-lata, os entendimentos sobre a declaração da cúpula mundial de 2012 sobre desenvolvimento sustentável nem abrem uma brecha para a discussão da crítica inversa. Aquela que, em vez de rejeitar a proposta original do Pnuma sobre a economia verde, considera-a necessária, mas não suficiente para tornar sustentável o desenvolvimento. Daí a imensa importância de tão oportuno livro, no qual o conhecimento acumulado desde os anos 1960 pela economia ecológica foi enriquecido com resultados de pesquisas de fronteira em vários outros campos do saber científico e filosófico. O bem-vindo décimo livro de Ricardo Abramovay conduz o leitor a reflexões que não poderiam ser mais estratégicas para o ideal da sustentabilidade.

Com o imenso risco inerente à pretensão de se fazer resumos, as cinco proposições que convidam o leitor a enxergar muito além da economia verde são as seguintes:

1. A civilização contemporânea vive a explosiva combinação de rápida evolução tecnológica e lenta evolução ético-social. Mesmo assim, nunca foram tão promissoras as oportunidades para a emergência de um sistema econômico em que a partilha, a cooperação e a distribuição dos recursos se coloque a serviço do desenvolvimento sustentável. Muito além de uma “economia verde”, essa “nova economia” tende a ser um processo de dupla reunificação: da ética com a economia e da sociedade com a natureza.

2. A economia da informação em rede favorece as formas de ação coletiva que não se baseiam nem no sistema de preços nem nas práticas típicas das firmas ou dos grupos de firmas. Está surgindo uma nova esfera pública, que não se confunde com o mercado nem com as hierarquias organizacionais públicas e privadas. A sociedade da informação em rede resulta de revolução científica em que convergem comportamentos humanos cooperativos e formas inéditas de organização do Estado, dos negócios e da vida associativa.

3. O crescimento como condutor perene da vida econômica é incompatível com a preservação e regeneração dos serviços ecossistêmicos dos quais dependem as sociedades humanas. São imprescindíveis padrões de consumo que simultaneamente reduzam as imensas desigualdades sociais (nacionais e globais) e aumentem a ecoeficiência.

4. Para que o crescimento não seja a razão de ser da vida econômica e se submeta ao objetivo de ampliar as liberdades humanas dentro das fronteiras ecológicas globais, políticas públicas serão essenciais, mas insuficientes. Os mercados precisam deixar de ser vistos como domínio da vida privada, como se a esfera pública fosse exclusividade do Estado e da sociedade civil. Torna-se indispensável que se aprofundem as pressões sociais sobre as cadeias de valor geridas pelas empresas.

5. Nada pode ser mais urgente, portanto, do que uma mudança radical da organização da vida econômica que faça com que os interesses privados sejam orientados para a obtenção de um bem-estar que não decorre dos tradicionais benefícios proporcionados pelo crescimento do produto: aumentos de riqueza material, de empregos, de impostos e de inovações.

É inevitável que tal síntese cause a sensação de se estar diante de profecias tiradas de interpretações idealizadas de algumas tendências pouco relevantes e até periféricas. Para usar o arguto aforismo de Romain Rolland, uma sensação de que o autor estaria sacrificando demais o imprescindível ceticismo da razão em favor do não menos louvável otimismo da vontade. Em suma: que esse descompasso teria produzido um livro utópico.

Ora, nada pode ser mais utópico do que contar com a possibilidade de que o mundo continue em seu atual transe, sem que nenhuma ruptura venha a perturbar a pachorrenta marcha das mudanças exclusivamente incrementais. Além disso, fora da vulgaridade cotidiana, o significado da palavra utopia não poderia ser mais positivo, pois se refere justamente ao integrado conjunto de ideais sobre o qual a sociedade tem a chance de alicerçar sua esperança: liberdade, equidade, solidariedade e sustentabilidade. 

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Resenha de José Eli da Veiga | Para o Valor, de São Paulo. Disponível em: http://www.valor.com.br/cultura/2691664/ruptura-necessaria-para-outraeconomia#ixzz1wwJFfEuL

José Eli da Veiga é professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e do Instituto de Pesquisas Ecológicas. (www.zeeli.pro.br)

Apresentação

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